quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O fiasco de Lobão no Rock in Rio II

Um fato ainda muito recorrente, quando se fala em Rock brasileiro e mais especificamente, na carreira do músico Lobão, foi o fiasco sofrido por ele no Rock in Rio II em janeiro de 1991.
Vamos primeiro contextualizar os fatos. Lobão, a princípio, já havia sido descartado do Rock in Rio I, seis anos antes em 1985. Segundo a sua biografia, algumas negociações começaram neste sentido, mas logo ele teria sido sumariamente excluído do festival. Cazuza durante o show (no mesmo Rock in Rio I) com sua então banda, o Barão Vermelho, profere algumas palavras ao público em defesa de Lobão, dizendo que ele deveria estar ali no festival, e assim o Barão acaba tocando uma música dele no show. Bom, desta feita, no segundo Rock in Rio, eis que novamente o convite surge e, estando tudo pronto, Lobão finalmente tocaria.
Uma coisa é importante ressaltar. Na minha sincera opinião, Lobão encontrava-se numa grande fase, tanto como artista, como quando músico. Sua banda na época contava com um timasso de primeira. Kadu Menezes na batera, um verdadeiro monstro. Rodrigo Santos que logo depois veio integrar o Barão Vermelho (e lá está até hoje), entre outras feras. A banda estava super entrosada, e o show do Lobão tinha uma força incrível. Lobão encarava bem na época, o seu lado rockeiro e fazia uma interessante mistura do seu rock com Samba. Ele havia saído da cadeia pouco tempo antes, e havia gravado o álbum: "Sob o sol de parador" em Los Angeles, com produção de Liminha. E um ano antes, ele havia gravado o album "Vivo", naturalmente ao vivo no festival Hollywood Rock em São Paulo no estádio do Morumbi. Ou seja, o show do Rock in Rio II, provavelmente seria o mesmo ou bem parecido do que está registrado no "Vivo". Eu sinceramente considero este álbum um dos pontos altos da carreira de Lobão. Eu estava neste festival, como pré-adolescente, levado por um casal de tios, mas não cheguei a ir no dia deste show. (Na verdade cheguei a assistir a um show dele em julho de 91, ainda nesta fase, na cidade de Pedro Leopoldo em MG, e pude testemunhar a força que a banda tinha ao vivo).
Só que no Rock in Rio, Lobão errou a mão ao pedir para ser escalado para tocar na noite do Heavy Metal. Segundo ele diz em sua biografia, ele fez isso para "provocar". Infelizmente foi um equívoco. O próprio segmento Metal ainda era bastante conservador, comparando aos dias atuais, e o Sepultura estava começando a despontar no cenário Internacional. Para piorar ainda mais, Lobão levaria no seu show, a bateria da escola de Samba da Mangueira. (Normalmente ele trabalhava com 20 músicos, mas para este resolveu levar 40, para aumentar o peso). Outro revés: Na passagem de som, Lobão havia demarcado o palco de acordo com as medidas exatas exigidas em seu contrato, e assim ele se garantia com uma distancia boa da platéia, e consequentemente sua segurança. Mas no dia do evento, o equipamento de palco do Judas Priest mudou toda a história. O Judas entraria com uma Motocicleta, e isso gerou uma série de mudanças. Pra piorar ainda mais, artista nacional na época ainda era colocado como artista menor, e sem os mesmos privilégios das atrações internacionais. (Ainda vemos grandes e claros resquícios desta mentalidade em muitos shows e festivais Brasil afora...).
Resumindo, Lobão não teve alternativa a não ser se apresentar praticamente colado à platéia de Headbanguers, que haviam visto apenas 30 minutos de Sepultura, e ainda queriam ver Judas Priest, Megadeth e Guns N´Roses. Lobão subiu no palco sabendo que coisa boa não ia acontecer. Segundos antes de subir no palco, alguém lhe passa um capacede da cruz vermelha (!), cujo propósito era simplesmente lhe proteger a cabeça, ou seja, aquele capacete ridículo, não tinha nenhum objetivo digamos "estético", mas sim, proteção.
Lobão e sua banda, puderam apenas abrir o show com "Vida Louca Vida", e já na segunda música, ele abandona o palco, dizendo: "Eu sei que tem gente aplaudindo, mas neguinho aqui, não é palhaço não".
Ele sai, para não mais voltar. Alguns jornalistas americanos que cobriam o evento ao entrevistá-lo, não conseguiam entender direito o que havia acontecido, e nomearam o fato de "cultural rejection". Algo como rejeição cultural.
Vendo o vídeo abaixo, da primeira e única música tocada no show, podemos ver como a banda tocava com vontade, e como eles eram bons. Teria sido um grande show, não tenho dúvidas.
Não estou aqui, defendendo algum lado ou tomando algum partido. Acho que Lobão poderia perfeitamente ter sido encaixado em algum outro dia do festival e ter feito o seu grande show, sem problemas. A solução poderia ter sido simples. Lobão é conhecido por sua personalidade forte, humor áspero e de palavras muitas vezes indigestas. Tal fato não pode simplesmente vir sem consequências. Este fato no Rock in Rio certamente foi apenas uma delas. Também não acho que o público Headbanguer ali presente naquele dia, tinha que se sentir obrigado a assistir Lobão. Mas acho que poderiam ter ido renovar a cerveja naquela hora, e dado lugar aos fans de Lobão na frente do palco. Enfim, creio que uma solução mais pacífica poderia ter surgido, pois afinal de contas é isso que vemos acontecer em qualquer festival internacional. Quem compra ingresso para um festival, sabe quais bandas irão tocar. Se alguma das bandas, o cara não tem interesse em assistir,  pode-se simplesmente circular pelas dependências do local, e fazer outras coisas, enquanto aguarda o seu show favorito. Ou mesmo calcular melhor o seu momento de adentrar o local do festival. Atitudes assim seriam mais civilizadas. Em todo caso, creio que hoje em dia fatos como este dificilmente ocorreriam.

Confiram abaixo algumas fotos, e o vídeo do show em questão, e me digam se vcs não concordam que teria sido um showzaço.


Abraços e até a próxima!

FD

                           Lobão usando capacete em pleno show, para se proteger das garrafadas...
Vídeo da única música que ele conseguiu tocar no festival. Reparem na bandassa, totalmente entrosada.
 
Aqui podemos ver trechos do show no Hollywood Rock um ano antes, e dá pra se ter uma noção do que poderia ter sido o show no Rock in Rio. 



Reportagem da MTV na época, com entrevista com Lobão, logo após o ocorrido. 


3 comentários:

  1. Eu adoro o Lobão...
    Ele era amigo de papai...
    Mas podia ser bem mais complicado. Meu pai poderia ser o Ozzy!
    hahahhahhahahhahaah!!
    beijos, me liga no nextel porque sou rica!

    ResponderExcluir
  2. Seu pai era amigo dele???
    Explica melhor isso aí Le;)

    ResponderExcluir
  3. na época do ocorrido não pudê entender pois ele estava em uma boa fase de sua carreira com bons hits que ate hoje embalam qualquer show de roqueiro tipo melancólicos que remetem a famosa frase ¨Que os brutos também amam¨, hoje entendo e acho que foi sim uma questão de erro de escalação de shows,para varia,coisa que ainda se ver principalmente com artistas nacionais que são desvalorizados perante outros internacionas...

    ResponderExcluir