Este artigo tem como finalidade fazer uma reflexão a respeito do relacionamento interpessoal entre músicos ligados a bandas de Rock e Heavy Metal de um modo geral. Este assunto sempre me intrigou, e acho que muitos por aí também já devem te parado para se perguntar, se haveriam maneiras, ou dicas de como que estes relacionamentos podem ser melhores, ou se podem ser menos conflitantes, como na verdade o são, muitas vezes.
Eu mesmo já passei por inúmeras situações, onde houve conflitos envolvendo a mim e outros músicos com quem eu dividia uma banda, e da mesma forma também vemos o mesmo ocorrer em bandas mainstream.
Alguns exemplos podem ser citados, como a famosa rixa envolvendo David Gilmour e Roger Waters do Pink Floyd. É interessante frisar que o verdadeiro motivo do problema entre eles nunca veio a público (até onde eu sei), mas é notório de todos que os dois simplesmente não se dão. Algumas notícias mais recentes dão conta de uma reaproximação entre eles, mas nada exatamente confirmado.
Outras rixas conhecidas entre os famosos: Os irmãos Gallagher do grupo britânico Oasis, o famigerado caso David Mustaine versus Metallica, rixa esta que recentemente parece ter sido apaziguada com a turné do Big Four. Enfim, é difícil uma banda que nunca teve algum problema com algum integrante. Aqui no Brasil, também temos alguns casos conhecidos, como: Max Cavallera versus Sepultura. Lembrando que os próprios irmãos Cavallera ficaram sem se falar por cerca de 10 anos. Os integrantes das bandas Angra e Shaman (ou, devería-mos apenas mencionar André Matos), que também não se dão muito.
Só que aqui, eu pretendo focar na realidade underground, que é aonde eu posso dizer que me insiro.
São inúmeros os casos que já presenciei de bandas que perderam integrantes, ou que mesmo chegaram a encerrar as atividades, simplesmente por que um ou mais músicos da mesma não puderam se entender em um determinado momento. Em algumas situações, a coisa chega a ficar realmente grave, envolvendo agressões verbais ou mesmo física. Em tempos de internet, o problema não raro se transfere para a realidade virtual, com boatos sendo espalhados, e o que em minha opinião é pior. Brigas e discussões via email, msn e afins.
Bom, vamos pensar no seguinte: A primeira coisa que temos que lembrar é a mais óbvia: Músicos também são pessoas. E pessoas das mais diversas culturas, origens, religiões, possuem conflitos. Pessoas de uma mesma família, de um mesmo emprego, de uma mesma escola, de uma mesma instituição, muitas vezes não se dão bem. Então por que devería-mos pensar que músicos que dividem uma banda por algum período de tempo, deveriam necessariamente ser uma exceção?
O que me chama atenção em um grupo de músicos, é que muitas vezes este grupo possui particularidades interessantes as quais me motivaram a escrever este artigo. Se partir-mos do princípio que todo artista gosta e quer mostrar a sua arte, podemos começar bem a nossa reflexão. Arte esta que no caso de músicos em uma mesma banda, é compartilhada. Alguns músicos possuem noções muito claras a respeito do que eles querem tocar,(mesmo que a realidade deste fato seja as vezes discutível) e da maneira como eles querem tocar. Esta noção nem sempre coincide com a do outro integrante da banda.
Um breve histórico: A partir dos anos 90, o Heavy Metal passou a ganhar (e ainda ganha), inúmeros subgêneros e rótulos. As gravadoras e a mídia se beneficiaram destes rótulos, pois assim poderiam segmentar o seu público de forma mais específica. Em alguns casos, estes subgêneros chegaram a dividir o público de tal maneira, que o estilo como um tudo ficou prejudicado, especialmente no Brasil. Os fans se viam obrigados a "escolherem um lado". O Headbanger brasileiro já acostumado à rixas no futebol, começou a ver dentro do Metal algo semelhante. Havia a turminha do melódico, do thrash, do tradicional, do black, do white, do épico, do prog, e assim por diante. Não raro, fans deste ou daquele subgênero, limitam-se a ouvir apenas o subgênero por ele escolhido, ignorando por completo (ou quase) os demais. Esta situação, ainda é bastante comum nos dias atuais. Dentro das bandas de Metal, é comum haverem problemas que envolvem estes segmentos. O baterista quer fazer um som mais melódico, enquanto que o guitarrista quer fazer um som mais Thrash. Mas o problema é que o vocalista não alcança muito bem as notas agudas que o melódico exige, então ele prefere fazer um som mais tradicional... e assim por diante. Só aí, já podemos lembrar-nos de inúmeras bandas que não foram pra frente, simplesmente devido a esta falta de entrosamento no direcionamento musical a ser tomado pela banda.
Outros problemas se dão no campo pessoal também. Como já foi dito, músicos também são pessoas.
Nem todas as pessoas são obrigadas a se darem bem. Muitas delas, até (sabiamente) deixam suas rixas pessoais de lado visando um bem maior. Sempre haverá pessoas que possuem opiniões tão diferentes das nossas, e que, além disso, possuem dificuldade em respeitar a nossa, e com estas pessoas dificilmente teremos prazer em ter um convívio mais próximo. Com músicos acontece a mesma coisa. Alguns simplesmente não se dão por motivos simplesmente de cunho pessoal.
Baseado em já alguns bons anos de vivências em bandas de Rock e Heavy Metal, e também já tendo enfrentado os mais diversos tipos de conflitos pessoas (e certo de ainda não conhecer nem 1% dos tipos existentes possíveis...), vou tentar enumerar aqui o que eu considero como importante no sentido de se prevenir ou evitar determinados conflitos.
Um músico na grande maioria das vezes precisa de outros músicos para poder expressar o seu trabalho, seu talento e sua arte. Por isso, meu caro leitor (a) músico, que ainda é jovem. Você por acaso já se perguntou, se você se vê tocando com a sua banda no futuro? Uma banda é um grupo que pode conviver por anos, e muitas vezes o trabalho realizado dentro da banda, passa a ter importância mais do que significativa na vida dos músicos ali envolvidos. Sendo assim, o primeiro ponto que eu gostaria de ressaltar:
- Uma banda precisa de uma liderança:
Esta liderança não necessariamente precisa ser exercida por apenas um integrante. Dois ou mais podem exercer esta função, ou mesmo todos os integrantes podem democraticamente possuir voz ativa dentro da mesma. Mas reparem que mesmo nestes casos, é muito comum haver aquele que geralmente toma à frente as situações com uma freqüência maior. Então muitos problemas já surgem aí. Muitas vezes esta liderança não é algo que se estabelece claramente dentro da banda. Comumente, um líder vai surgindo naturalmente, ou veladamente. Quando se percebe, a banda está sendo liderada por alguém, que simplesmente tomou à frente ou de certa forma "conquistou" ou mesmo "reclamou" para si aquela posição. Ainda que de forma não declarada. (Acreditem, é muito comum de acontecer).
Situação esta que quando descoberta, não raro gera conflitos, e se não são resolvidos, a banda pode perder integrantes, ou mesmo encerra suas atividades.
Recomendo ao leitor que possui sua banda, ou que pensa em ter ou formar uma. Estabeleçam previamente quem será o líder. Quais funções este líder deverá ter e se for o caso, quais privilégios também.
A máxima do "combinado não sai caro", vale muito nestes momentos. Lembrando que muitas vezes a posição de líder não demanda apenas privilégios, mas muitas vezes o líder é o que trabalha mais dentro de uma banda. Muitas vezes, é o líder quem fica encarregado de marcação de ensaios, captação de shows, composições, agendamento de estúdios, merchandising, mídias virtuais...
Sim, prezado leitor (a), tocar em uma banda dá muito trabalho. Não é apenas fazer shows, receber elogios, ser bem visto na sua turma, ser assediado pelas meninas, e etc.
Já vi inúmeras bandas simplesmente encerrarem suas atividades (muitas vezes depois de brigas), simplesmente pelo fato dela não possuir uma liderança. Seria o que eu poderia chamar de bandas “à deriva”.
Meu segundo ponto seria:
- Os (reais) objetivos da banda devem ser claramente acordados e firmados:
Outro motivo muito comum em conflitos envolvendo músicos é o que eu poderia chamar de choque de objetivos. Muitas vezes, um integrante tem em mente, que a banda vai se tornar profissional, irá gravar discos, fazer muitos shows, inclusive fora de sua cidade, quiçá até mesmo fora do seu estado e país. Mas não raro, outro (s) integrante, não está exatamente sintonizado com a idéia do primeiro. Para ele, a banda é um hobbie. Ele possui em mente (ou não), o que quer fazer com o seu futuro, muitas vezes, já pensa em ser um profissional de uma determinada área, sendo assim, ele já sabe que aquele momento para ele é passageiro. Ele está curtindo o presente, e só. Ele não se vê fazendo aquilo no futuro, ou mesmo nunca parou para pensar a respeito. Recomendo ao leitor músico, se fazer a seguinte pergunta.
Você pretende estar tocando o seu instrumento daqui a cinco, dez, quinze ou mais anos?
Se você respondeu sim, a estas três variações de tempo, é provável que você queira ser um músico profissional. Por que em um determinado momento, você não vai mais ter 18 anos, e você realmente irá precisar pensar no seu futuro. Você precisará pensar a respeito de como irá fazer a sua vida. (Mais pra frente, eu pretendo tratar a respeito de profissões que podem ser escolhidas, que podem contribuir para o trabalho do músico quando o mesmo precisar escolher uma segunda atividade para seu sustento).
Algumas bandas fazem esta escolha de forma muito clara. Os integrantes fazem uma espécie de "pacto", e resolvem dedicar suas vidas para o trabalho dentro da banda. Recentemente, eu vi uma entrevista da banda paulista Claustrofobia no Youtube, onde eles dizem ter aberto mão de outras coisas, para viverem por conta da banda. Em minha opinião, escolhas assim são muito bonitas de serem feitas, justamente por exigirem uma reflexão muito séria de todos os envolvidos.
Lembre-se: Se você deseja que sua banda um dia se torne algo significativo, que possua um nome na cena, que possua um bom número de fãs, com shows lotados, turnês, discos lançados, você precisará se dedicar muito para isso. Estes elementos não irão cair do céu simplesmente. Você não irá acordar amanhã, e perceber que se tornou um rock star. Este é outro ponto que infelizmente fazem muitos músicos desistirem. Quando se dão conta do real trabalho que precisarão ter para que suas bandas sejam de fato reconhecidas.
Tudo isso pode ser evitado, se os objetivos da banda sempre forem deixados claro para todos os envolvidos.
Para isso é de suma importância uma coisa relativamente simples: Diálogo.
Muitas bandas simplesmente se desfazem ou perdem integrantes, por pura falta de diálogo e conversas.
Muitas vezes vale à pena abrir mão de alguns ensaios para simplesmente conversarem. Compartilhem opiniões das mais diversas envolvendo a banda de vocês. Gosto muito de conversar com a minha banda, sobre os shows que acabamos de fazer. Quais foram os pontos interessantes, quais não foram. Quais pontos devem ser evitados para o próximo, e assim por diante. O diálogo é de uma importância mais do que valiosa e muitas bandas não percebem isso. Recomendo que você faça reuniões periódicas com todos da banda, ao vivo e a cores. Nestas horas email, msn, e afins não irão ajudar. Conversem. Coloquem os pontos que estão "pegando". Também considero da maior importância que estas reuniões envolvam apenas os integrantes da banda, e seja realizada num ambiente privado. Principalmente quando estas reuniões sejam feitas visando resolução de conflitos. A banda precisa deste momento de privacidade. Sendo assim, encontrar com a banda no boteco onde a galera toda se reúne, definitivamente não vai funcionar. Vocês terão privacidade zero, e muitas vezes os problemas de vocês poderão ir parar em outras rodas de conversas, e conseqüentemente gerar boatos, rumores, etc. Acredite. Isso não contribuirá em nada para o trabalho de vocês. Tenham zelo pela privacidade, e conversem, discutam, debatam etc.
Vou terminando esta parte por aqui.
Este assunto vai exigir algumas seqüências deste artigo, e eu pretendo ir escrevendo, no decorrer das próximas semanas.
Estou aberto a críticas e sugestões. Se você está enfrentando algum problema dentro da sua banda e quiser falar a respeito, pedir opinião pode me escrever também: filipeduarte2010@gmail.com
Não tenho a pretensão de "salvar" bandas ou algo do tipo. Mas ajuda, eu creio que deva sempre ser algo oferecido, desde que seja possível.
Forte abraço:
Filipe Duarte
Nenhum comentário:
Postar um comentário