Impossível não falar neste assunto.
Estamos passando por um ano definitivamente muito difícil, para o Rock Brasileiro. Como se não bastasse o mesmo, já ser preterido da grande audiência, assistimos a um prêmio Multishow patético, onde "artistas" como Naldo e Anita dominam as paradas, e são as novas "revelações" da música brasileira, influenciando milhares de adolescentes e jovens Brasil afora.. sendo estes, convencidos de que os citados "artistas" são o que há de melhor na música brasileira hoje.
Neste cenário, temos em março a fatídica e trágica morte do vocalista, compositor e empresário da banda Charlie Brown Jr., Alexandre Abrão, o Chorão. Uma overdose de cocaína teria matado o vocalista, que deixou uma carreira no topo, mulher, um filho, uma legião de fans desolados, uma pista de Skate em Santos, e um vasto catálogo musical. Tinha apenas 42 anos de idade.
O Baixista do Charlie Brown Jr., o Champignon, então, junta os remanescentes da banda, e monta logo em seguida a banda "A Banca". Menos de um mês após a morte de Chorão, A Banca já estava fazendo shows pelo Brasil. A banda sofreu pesadas críticas por iniciar um trabalho tão prematuro, à morte do vocalista Chorão e consequentemente do próprio CBJr.
Os fãs precisam de tempo para entender e digerir a perda de um artista querido. Mas de todo modo a Banca foi lançada, e lá estava, inclusive com shows já agendados até o final do ano. Champignon, desta vez assumiu o posto de vocalista, abrindo mão do baixo, seu instrumento, onde sempre se destacou por sua técnica apurada, juntamente com todos os demais músicos da banda, que sempre foram exímios em seus instrumentos, algo pouco comum no Rock Brasileiro, diga-se.
Champignon poderia ter sido o Dave Grohl brasileiro. O rockeiro americano que iniciou sua carreira como baterista da então maior banda do mundo Nirvana, no início dos anos 90, iniciou sua segunda carreira com o Foo Fighters em 1995. Um ano após o suicídio do vocalista (do Nirvana) Kurt Cobain. Dave queria tocar. O Nirvana ia de mal a pior e ele começou a aproveitar os ensaios do Nirvana que Kurt não aparecia, e ia compondo material novo, sem saber onde iria usar. Somente um ano após a morte de Kurt, Grohl, resolveu lançar o Foo Fighters. Banda esta que já se tornou muito maior que o próprio Nirvana, e já consolidou uma carreira de expressão muito mais significativa , com inúmeros prêmios e números de vendas nas alturas. Grohl conseguiu a façanha de ser um dos poucos músicos no mundo que conseguiu fazer parte da maior banda do mundo por mais de uma vez.
Champignon parecia percorrer esta mesma trilha aqui em solo brasileiro. Repito..parecia. Nunca saberemos se a Banca, iria de fato fazer um trabalho que se destacasse. Bons músicos eles certamente tinham. Tampouco eu também não sei se a banda pretende continuar as atividades, após este segundo baque, que eles levam em tão pouco tempo. Infelizmente, faltou ao Champignon o espírito de liderança. Saber tomar as decisões certas na hora certa. Poderia ele ter permanecido no baixo e chamado outra pessoa para assumir os vocais...? Não sei. É difícil falar, estando de fora.
Mas tenho opiniões formada sobre alguns pontos:
A primeira delas, é que foi um erro a banda "A Banca" iniciar a carreira de forma tão prematura. Acho que um tempo mínimo de uns 6 meses, poderia ter sido muito útil para eles, para inclusive usarem este período para comporem músicas novas, e então poderem apresentar um trabalho novo aos fãs. Mas ao contrário disso a banda, deu a entender que queria começar o mais rápido possível, inclusive parecendo querer aproveitar o "momento" da comoção pela morte do Chorão. (Repetindo, a banda estava fazendo shows, menos de um mês após a morte do vocalista).
O Segundo erro, foi a banda iniciar como uma aparente "continuação" do CBJR. Ora, se a idéia seria fazer um tributo...(inclusive para cumprir uma agenda do próprio CBJR, já marcada antes da morte do Chorão), que chamasse em então de Tributo ao CBJR, ou algo do tipo.
O terceiro erro pega um gancho no segundo: A banca tocando músicas do CBJR, e vendendo shows como "Tributo a Chorão".
Enfim, para mim isto é um péssimo planejamento. Lógico que haviam as famílias envolvidas (dos músicos, técnicos e demais pessoas ligadas a eles), mas só que agora estas mesmas famílias voltam a ficar desamparadas.
Acabou sobrando muito para o Champignon. Conheci muito pouco deste músico, confesso. Pude ver que era um exímio baixista, a ponto de chamar atenção de outros igualmente bons como PJ do Jota Quest, entre outros. A pressão de agora ser o frontman, ser o homem das entrevistas, o mais requisitado, e ainda ter que lidar com a ala radical dos antigos fãs do CBJR, que o acusavam de "mercenário", e de querer tomar o lugar do antigo vocalista. Isto, pelo menos foi o que foi divulgado até agora. Outras coisas certamente rolaram, as quais talvez nunca saberemos. Champignon, não aguentou. Poderia ter sido o Dave Grohl brasileiro. Poderia quem sabe, se cercar de coisas boas, pensamentos bons, pessoas boas... os demais músicos da banda, que estavam ali contando com ele.
Poderiam ter dado um tempo. Repensado as coisas, refeito planos. Poderiam ter cancelado alguns shows. Melhor perder alguns shows do que uma carreira inteira. A banda poderia ter entrado em estúdio e preparado um bom álbum de Rock com canções inéditas para lançar em 2014. Enquanto isso o álbum inédito do CBJR, seria lançado ainda este ano. Dando tempo para as suas devidas coisas. Enfim, acho que faltou algum planejamento nisso tudo. Mas ao contrário, ele preferiu pegar a sua pistola 380 e disparar contra a própria cabeça, estando sua esposa grávida em casa, e deixando uma filha de outro relacionamento, somando-se então, duas crianças sem um pai.
Voltando ao paralelo com Dave Grohl/Foo Fighters. Grohl esperou pelo menos um ano para lançar a sua nova banda. Composições completamente inéditas, e sem músicas do Nirvana nos shows, para o desespero total dos fãs viúvos. Mas é assim que funciona pessoal. Certas coisas precisam ser definitivamente deixadas para trás, e uma nova vida precisa ser seguida. Se a banda é nova, ela precisa SER nova. Se você monta um trabalho para viver a sombra de outro artista falecido, ou vc oficializa este trabalho como um tributo, ou então vc terá sérios problemas de identidade para o seu trabalho.
Músicos profissionais, na minha opinião, precisam também saber lidar bem com os altos e baixos de uma carreira, principalmente aqueles que alcançam um reconhecimento considerável. O CBJR, se tornou em um dado momento uma das maiores bandas de rock do Brasil. Tinham a melhor estrutura, o melhor equipamento, estavam ganhando dinheiro e fazendo muitos shows. A mídia dando apoio, músicas na rádio, etc. De repente tudo some. E aí? Precisa-se ter humildade para voltar do começo e iniciar tudo de novo. Vinnie Paul do Pantera uma vez disse. "Quando subir na carreira, nunca passe por cima de outras pessoas, pois vc poderá encontrar estas mesmas novamente no seu caminho de descida". Aliás, outro músico que enfrenta até hoje um recomeço com uma nova banda após a morte do irmão e parceiro Dimebag Darrel, ex companheiro de Pantera e Damage Plan.
Eu citaria outra banda brasileira que também precisou dar a volta por cima, que foi o Raimundos. Após a saída do vocalista Rodolfo Abrantes, que se tornou evangélico fanático, a banda retomou a estaca zero, mas nunca desistiram. Hoje estão de volta ao cenário, fazendo shows e lançando trabalhos novos. Ninguém precisou meter uma bala na cabeça, neste caso.
Tudo isto é lamentável. Seja no Rock, no Metal, a regra é a mesma. Precisamos ter muita raça, e tirar forças de nós mesmos, e do som que fazemos para atingirmos os nossos objetivos.
Acreditar no seu trabalho sempre. Mas nunca colocar o seu trabalho na frente de você mesmo. Em primeiro lugar, vem o músico. Em segundo vem a música. (Dave Grohl).
Que Chorão e Champignon descansem em paz e quem sabe, façam um som lá do outro lado, onde quer que estejam, se é que estão em algum lugar. Ambos de certa forma fizeram as escolhas que culminaram neste resultado. Poderiam ter lutado mais, poderiam ter se resguardado, procurado ajuda especializada. Que tirassem um ano de férias, talvez em um lugar distante... (como George Harrison fez na Índia...) para refletir a respeito de si mesmos, e de suas carreiras. Mas infelizmente optaram pelo pior caminho. Lamentável e triste!
Fica então o legado que eles deixaram.
Não sei, mas espero que os músicos restantes da A Banca, Bruno Gravetto, Marcão e os demais, busquem forças de fato. Desejo a eles a maior força do mundo! Adoraria mesmo, se eu pudesse, bater um papo com eles agora, e tentar ajudar de alguma forma. Sinceramente espero que eles continuem, seja com este nome ou com qualquer outro. Desejo tudo de melhor para eles.
Rock is Forever!
Abs,
FD
Excelente reflexão, Filipe. Concordo com a sua opinião. Acho também que o sucesso causa a sensação de estar imune ao fracasso, o que é um erro. Muitos tornam-se muito populares ainda cedo e qualquer percalço profissional parece ser o fim de tudo. Creio que atitudes de extrema fraqueza como as dos caso em questão e de outros (kurt cobain, Michael Hutchence do INXS...) revelam um desligamento no qual os valores pessoais e de família tornam-se de menores perante ao que representa o auge do sucesso profissional para muitos artistas. Em suma, todo artista almeja o sucesso de ter o trabalho reconhecido pelo maior número de pessoas possível, porém é necessário manter-se consciente de que tudo vem e vai e há outros valores que dão suporte à existência. Obs: O Champignon se precipitou ao lançar a nova banda mesmo. Um abraço!
ResponderExcluirConcordo plenamente
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